Quem morre, querido, de pouco precisa
Apenas um copo d'Água
O rosto discreto da flor
Pontuando a parede lisa,
Um leque, talvez, do amigo a mágoa
E a certeza de que alguém
No arco-íris não verá mais cor
Depois que você se for.
Emily Dickson
A emoção é como um pássaro,
quando se prende já não canta
domingo, 30 de outubro de 2011
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Reinaldo Ferreira
Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira nasceu em Barcelona (Espanha)
a 20 de Março de 1922 e morreu de cancro em Lourenço Marques (Moçambique)
a 30 de Junho de 1959.
a 20 de Março de 1922 e morreu de cancro em Lourenço Marques (Moçambique)
a 30 de Junho de 1959.
Magaíça
Tela de Henry Rousseau
Magaíça, ao partir, não se prende
mas sofrendo no Rand é que aprende
que a mina é inferno, desterro e má sina,
que a terra é o céu de quem vive na mina!
Vem ver o sol, vem ver,
que é morte viver
debaixo do chão!
Diz, Magaíça, diz,
diz adeus à raiz,
diz adeus ao carvão...
O oiro que a mina te dá
não paga a saudade que há
no teu coração!
É lá fora que correm gazelas,
é lá fora que há nuvens e estrelas,
que o milho espigado, na seara a crescer.
parece que pede que o venham colher!
Reinaldo Ferreira
Tu não me deixes
Agora o céu não é das aves,
Agora o mar não é dos peixes!
Desabam tectos, quebram-se as traves,
Tu não me deixes, tu não me deixes!
Olha que o Tempo sua os segundos
No manicómio da Eternidade!
Estoiram os astros, chocam-se os mundos.
Tu não me deixes, por piedade!
Repara a hora como endoidece,
Como acelera, como recua.
Eu tenho a culpa do que acontece,
Mas, se me deixas, a culpa é tua.
Reinaldo ferreira
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Tela de Robert Fowler
Lua de neve quebrada
em seis pedaços de seda.
Luz de Lua que se queda
em meio às folhas cravada.
Lua em seis raios cortada.
Luz em pétalas de alvura.
Sobre a rama verde-escura
cetim branco e perfumado.
Nácar de Lua rasgado
em seis raios de luz pura.
Rafaela Chacón Nardi
Rafaela Chacón Nardi ( Cuba )
Tradução de Aurélio Buarque de Holanda
Meninas no verão
Tela de Diane Leonard
Meninas em trajes de verão
vêm e vão como a brisa,
envoltas em perfumes de flores
e sorrisos que salvam vidas.
Passam em tecidos tão finos
que mal chegam a tocar a pele
e se movem por entre a gente
como se dançassem nas ondas.
Álvaro Bastos
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Consolo
Tela de Kris Lewis
Havia uma rosa que morreu em botão
Eu vi sua beleza partida então
Numa encosta
ouvi-os dizer: O que importa esta morte
com tantas rosas por aí de tantas sortes
Não lhes dei resposta.
Havia um pássaro que morreu
disseram: montes deles voarão pelo céu
qual a razão de se ficar triste agora?
Havia uma moça cujo amor foi embora
Não esperei então a hora
que diriam: há muitos homens lá fora.
Dorothy Parker
domingo, 23 de outubro de 2011
Beija-flor
Beija-flor, de canto mudo,
quanto de sua ligeireza
É seiva compartilhada?
Quanto de sua delicadeza
É essência de flor esvoejada?
O melhor néctar é aquele
Que se rouba apressado?
A vida é para ser sorvida
Por um fino canudinho ?
O que levas para o teu ninho?
Suor de rosas, saliva de jasmim,
Um beijo de glicose perolada
Alvaro Bastos
Luz do mar
Richard Jonhson
Luz do mar que a minha estrela guia
Crista de espuma que faz da prata lua
Escamas de pérola a saltar em água viva.
Meu amor é a sereia que a proa aponta
A bússola dos sonhos a nortear o sul
A gaivota que o cesto da gávea acolhe.
O que sou é o deslizar entre o ar e água
o flutuar sobre o abismo de azul marinho
a contemplar os brilhos infinitos do céu.
Alvaro Bastos
Uma casa em meio às árvores
Romel De La Torre
Queria fazer com minhas mãos
uma casa em meio às árvores,
que desse boas vindas ao sol
e ao mesmo tempo abrigasse
amigos, flores e passarinhos.
Uma casa de paredes brancas,
telhas da cor de seus cabelos.
Uma casa para te encontrar,
onde escrever sobre nós dois.
Com janelas sempre abertas,
para deixar o vento trazer
o aroma de flores do campo.
Uma casa com espaço para
as esperanças e joaninhas.
Um lugar no meio do mundo
tendo o amor como endereço.
Alvaro Bastos
O que chamo vida...
A cor da argila no telhado,
a agitação da folha na palmeira,
o som de uma pedra que
é atirada num pequeno lago.
Meu mundo tem poucos
endereços, mas a paisagem
é infinita e sempre muda,
dependendo do sol e da lua,
e do meu jeito de olhar
o interior do que chamo vida.
Alvaro Bastos
sábado, 22 de outubro de 2011
Mark Arian
Leve… - Pluma… Surdina… Aroma… Graça…
Qualquer coisa infinita… Amor… Pureza…
Cabelo em sombra, olhar ausente, passa
como a bruma que vai na aragem presa…
Silenciosa. Imprecisa. Etérea taça
em que adormece luar… Delicadeza…
Não se diz… Não se exprime… Não se traça…
Fluido… Poesia… Névoa… Flor… Beleza…
Passa… - É um morrer de lírios… Olhos quase
fechados… Noite… Sono… O gesto é gaze
a estender-se, a alargar-se… - E enquanto vão
fugindo aos passos teus, Visão perdida,
chovem rosas e estrelas pela vida…
Silêncio! Divindade! Iniciação!
Cecília Meireles
Agora sou
Tela de mark Arian
Agora sou
porto de silêncio que conhece
a rota da madeira,
porta do sótão
e turbilhão de folhas
que, pela cozinha, arrasta o vento.
Agora sou
a casa que conhece
múrmuras colméias,
unhas do gato prateado,
o desatino matinal dos pássaros
e o amor das janelas pelas nuvens.
Ao perfume da erva
após a chuva
une-se o do café.
Do tempo passado
a decifrarmos juntos paredes
de granito e cal
vem-nos doce a fadiga.
Repousemos.
Flor Campino
A Alegria
Tela de Mark Arian
No fundo de um poço
deitei a Alegria,
dizendo-lhe: “Espera
que volto algum dia,
com louros e rosas,
Amor e Poesia.”
No fundo de um poço
por que a deitaria?
Por que desprezava
sua companhia?
Pensei que no mundo
tudo padecia.
Ai, como o pensava!
E não a queria.
No fundo de um poço
deitei a Alegria.
Chegaram os tristes
por quem eu sofria.
Consigo a levaram
- e de longe o via! -
Nunca perguntaram
a quem pertencia.
Sofrer por sofrer,
somente eu sofria.
Os outros, - apenas
querendo alegria.
À beira do poço
voltarei um dia.
Pousarei meu rosto
na água negra e fria,
em ramos serenos
de Amor e Poesia.
Direi meu segredo,
sem melancolia.
E na água profunda,
sem noite nem dia,
eu mesma serei
minha companhia.
Eu quis outra coisa
que ninguém queria.
Nem tenho saudade
da antiga Alegria
Cecilia Meireles
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
terça-feira, 18 de outubro de 2011
A Montanha
A seda do céu começou a manchar-se de sombra,
E o cristal do ar sereno
Embaciou-se de sombra
e com o silêncio profundo
a noite, imensa, desceu.
E junto a mim, sob o céu morto,
ficou apenas este vulto de montanha
enchendo o mundo...
Tasso de Oliveira
Fragmento
Tela de Olga Suvorova
“Não se concentre tanto nas minhas variações de humor,
apenas insista em mim.
Se eu calar, me encha de palavras,
me faça querer dizer outra e outra vez sobre você,
sobre nós, e todo esse amor.
Se eu chorar, não me faça muitas perguntas,
não precisa nem secar minhas lágrimas.
Só me diz que você continuará comigo pra tudo,
que tenho teu colo e teu carinho.
E ainda que te doa me ver assim,
me envolva nos teus braços e diga que eu posso chorar,
mas que você não sairá dali enquanto eu não sorrir.
Porque é isso que nos importa, não é?
O sorriso um do outro.
Não é?”
Caio Fernando Abreu
Poemeto
Tela de Sascalia
Naquela tarde quebrada
contra o meu ouvido atento
eu soube que a missão das folhas
é definir o vento.
Rui Belo
Quintanar
nada mais dura:
tudo é pressa pura
tudo se acaba
e se perde:
as pedras, prédios, impérios
tudo o que perdura
são as nuvens
o arco-íris e os vaga-lumes
das noites de primavera
o mais é literatura
Cairo Trindade
sábado, 15 de outubro de 2011
Janelas de sonho
Os diamantes nascem
em noites de lua cheia,
numa combinação de luz
e pequenos pontos do infinito.
São os brilhos da escuridão,
lágrimas de cristal eterno,
pequenas janelas de sonho
que levam teus olhos às estrelas.
Álvaro Bastos
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Cantiga
Tela de Giovanni Boldini
pra onde foram os beijos,
os abraços e os amores
que ontem nos arrebataram
e não voltam nunca mais?
pra onde foram pessoas
que vieram e ficaram
tão nossas, tão vivas, plenas,
agora quase irreais?
para onde vão as coisas
que se perdem pela névoa,
tragadas por temporais?
vão para junto dos barcos
que navegaram pras nuvens
sem jamais chegar ao cais.
Cairo Trindade
sábado, 8 de outubro de 2011
Poema
Tela de Diane Leonard
A pedra, o vento, a luz alteada,
o salso mar eterno, o grito
do mergulhão, sob o infinito
azul: — Deus não me deve nada
Helio Pelegrino
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Ciume
Tela de George Dunlop Leslie
O Inverno açoita lá fora.
É hora de acender o lume
e te dar meu colo, como de costume.
Deita teu sonho e enche tua taça
porque a noite cansa, a estrela passa
e a lua se apaga, morta de ciúme.
Flora Figueiredo
Ficamos assim
Tela de An He
Ficamos assim:
você joga as queixas no telhado,
eu ponho as manias de lado,
você lava a escadaria, eu rego o jardim.
Podemos varrer juntos as nódoas secas
aderentes ao passado.
Se você se habilita, eu me disponho,
num desafio à desdita.
Você acende a luz, eu desempeno o sonho,
enquanto você ensaia o passo, eu troco a fita.
Na mesa torta, a toalha colorida.
O resto é fácil:
basta mandar flores ao futuro,
derrubar o muro e acreditar na vida.
Flora Figueiredo
Guardados de infância
Tela de Leslie Dunlop
Atenção: Compro gavetas,
armários, cômodas e baús.
Preciso guardar minha infância:
os jogos da amarelinha,
os segredos que me contaram
lá no fundo do quintal.
Preciso guardar minhas lembranças:
as viagens que não fiz,
ciranda, cirandinha
e o gosto de aventura
que havia nas manhãs.
Preciso guardar meus talismãs:
o anel que tu me deste,
o amor que tu me tinhas
e as histórias que eu vivi...
Roseana Murray
Preceito
Tela de Luiza Caetano
Poeta, nunca deixes crescer em ti o silêncio ou a morte
nem a tua alma, nem os homens te pedem silêncio
nem o silêncio de gestos
nem o silêncio de gritos.
teu destino é maior.
Mergulha em teu ser e busca lá no fundo
e dá aos que esperam seja lá o que for.
Dá-lhes mesmo um peixe vermelho ou uma borboleta azul.
Álvaro Pacheco
Álvaro Pacheco
De outro modo, não
Tela de Barbara Mock
Se não chover nem ventar,
se a lua e o sol forem limpos
e houver festa pelo mar
- ir-te-ei visitar.
Se o chão se cobrir de flor,
e o endereço estiver claro,
e o mundo livre de dor
- ir-te-ei ver, amor.
Se o tempo não tiver fim,
se a terra e o céu se encontrarem
à porta do teu jardim
- espera por mim.
Cantarei minha canção
com violas de eternamente
que são de alma e em alma estão.
- De outro modo, não.
Cecilia Meireles
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