A emoção é como um pássaro,
quando se prende já não canta

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Hora de se pensar em voz alta
no terraço das trepadeiras.
A claridade quase morta
esmalta
os vidros da janela e borda
de fios de ouro o leque das palmeiras.

Hora em que não há mais distâncias; hora
em que a primeira estrela vem ouvir na sombra
o canto verde da primeira rã;
em que cada palavra tomba
e se desenrola
silenciosa como um novelo de lã.

Guilherme de Almeida

terça-feira, 17 de maio de 2011

Eternidade

Que renda fez a tarde no jardim,
Que há cedros que parecem de enxoval?
Como é difícil ver o natural
Quando a hora não quer!
Ah! Não digas que não ao que os teus olhos
Colham nos dias de irrealidade.
Tudo então é verdade,
Toda a rama parece
Um tecido que tece
A eternidade.

MIGUEL TORGA

segunda-feira, 16 de maio de 2011

El amor es una bahia

El amor es una bahía linda y generosa,
que se ilumina y se oscurece, según venga la vida.
Una bahía donde los barcos llegan y se van: llegan con pájaros
y augurios, y se van con sirenas y nubarrones.
Una bahía linda y generosa, donde los barcos llegan y se van…
pero vos, por favor, no te vayas.


MARIO BENEDETTI

sábado, 14 de maio de 2011

Topiaria

A palavra topiaria, vem do latim topiarius  e significa "a arte de adornar os jardins".
 A topiaria é uma técnica avançada de jardinagem que tem por objetivo dar formas
 esculturais às plantas, de acordo o desejo do jardineiro. É uma arte antiga,
 sua origem remonta a 500 A.C, onde foi explorada nos jardins suspensos da 
Babilônia, com os primeiros jardins intensamente trabalhados pelo homem.


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sexta-feira, 13 de maio de 2011

A cor do Paraíso



Este é um dos mais bonitos e emocionantes filmes dos últimos tempos. 
Uma produção iraniana que recebeu muitos prêmios mundo afora. 
A Cor do Paraíso narra a comovente história de Mohammad, um menino cego que mora
 numa escola para deficientes visuais e que, nas férias, volta para seu vilarejo nas montanhas,
 onde convive com as irmãs e sua adorada avó. O pai, que é viúvo, se prepara para casar novamente. Mohammad é um garoto muito vivo, que tem uma enorme sensibilidade. 
Seu jeito simples de "ver o mundo" é uma lição de vida. 
Dirigido por Majid Majidi, o mesmo do consagrado Filhos do Paraíso. 


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quarta-feira, 11 de maio de 2011

A cor do paraiso

UM FILME PARA NÃO ESQUECER

viver em pleno vento


Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
.
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
.
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
.
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.
*
.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Na voz do silencio

Tela de Ariana Richard
Na voz do silêncio 
das nascentes
entre o sono das palavras
que me dizes
há ribeiros vestidos de luar.

Nem as distâncias
nos impedem de dizer:

Para sermos felizes
Basta…amar!
ALEXANDRINA PEREIRA

Entrelinhas

Duas linhas paralelas
Muito paralelamente
Iam passando entre estrelas
Fazendo o que estava escrito:
Caminhando eternamente de infinito a infinito.

Seguiam-se passo a passo
Exactas e sempre a par
Pois só num ponto do espaço
Que ninguém sabe onde é
Se podiam encontrar
Falar e tomar café.

Mas farta de andar sozinha
Uma delas certo dia
Voltou-se para a outra linha
Sorriu-lhe e disse-lhe assim:
“Deixa lá a geometria
E anda aqui para o pé de mim…!

Diz a outra: “Nem pensar!
Mas que falta de respeito!
Se quisermos lá chegar
Temos de ir devagarinho
Andando sempre a direito
Cada qual no seu caminho!”

Não se dando por achada
Fica na sua a primeira
E sorrindo amalandrada
Pela calada, sem um grito
Deita a mãozinha matreira
Puxa para si o infinito.

E com ele ali à frente
As duas a murmurar
Olharam-se docemente
E sem fazerem perguntas
Puseram-se a namorar
Seguiram as duas juntas.

Assim nestas poucas linhas
Fica uma estória banal
Com linhas e entrelinhas
E uma moral convergente:
O infinito afinal
Fica aqui ao pé da gente.

JOSÉ FANHA (poeta português)

Ás seis da tarde

Richard S.Johnson

Às seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro.
Não choravam por isso
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam
com boa saúde
se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom e do melhor
choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha
porque uma ânsia
uma dor
uma gastura
era só o que sobrava
dos seus sonhos.

Agora
às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução. 

Marina Colasanti

terça-feira, 10 de maio de 2011

Recado

Tela de An He
Ao vento da noite sussurro
sete segredos; tudo que
tenho por fora tudo que tenho
por dentro, que o vento vá levando
minha sede de amor, pule cerca
pule sebes abra porteiras no mar
derramando meu recado nos quatro
cantos do ar...

Roseana Murray

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A beleza



___: ◦♥◦: ___






Não....a beleza não estava no poente
nem na rocha batida pelo mar,
ou no esplendor do sol que naufragava
a beleza....amor...a beleza
estava no teu olhar ...



Mariza Alencastro

Anjo


___: ◦♥◦: ___"ANJO

Em cada precipício me sento
e um anjo me sussurra com calma
as encruzilhas,
as estradas desconhecidas.

Todos os meus anseios
estão em suas mãos
e com seu hálito me acalma,
me acalanta.

Durma, ele me diz, sentado
na beira de minha sombra,
não tenha medo dos sonhos.

 -«♥»-: : Roseana Murray 

Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

PABLO NERUDA

Venho de um país sem nome

Nudez de cada pedra move ajunto os feixes do
silêncio e da rua esta nudez que fecha o caminho
para a água onde descobrirás o fogo que guarda
o cão da palavra?

Ladra o mundo contra o fogo pobres uní-vos
somos uma pouca de terra recolhida na mão

ARMINDO TREVISAN — A Fabricação do Real

domingo, 8 de maio de 2011

Romantismo

Tela de An He


Quem tivesse um amor, nesta noite de lua,
para pensar um belo pensamento
e pousá-lo no vento!...
Quem tivesse um amor - longe, certo e impossível -
para se ver chorando, e gostar de chorar,
e adormecer de lágrimas e luar!
Quem tivesse um amor, e, entre o mar e as estrelas,
partisse por nuvens, dormente e acordado,
levitando apenas, pelo amor levado...
Quem tivesse um amor, sem dúvida nem mácula,
sem antes nem depois: verdade e alegoria...
Ah! Quem tivesse... (Mas quem tem? Quem teria

CECÍLIA MEIRELES

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Em vez de amar

Em vez de amar singelamente
uma casa pequena com jardim,
uma varanda com pássaros,
uma janela em que ao sereno há uma bilha de barro
um pessegueiro, uma canção e um beijo
- o pessegueiro de seu pomar,
a canção popular
e o beijo que poderia alcançar-
a minha musa ama precisamente
o que não existe neste lugar. 

HENRIQUETA LISBOA

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Provérbio chinês

Tela de Diane Leonard
Aquele que não sabe e pensa que sabe, é um tolo: FUJA DELE
Aquele que sabe e pensa que não sabe, está dormindo: ACORDE-O
Aquele que não sabe e sabe que não sabe, é humilde: GUIE-O
Aquele que sabe e sabe que sabe, é um mestre: SIGA-O

(provérbio chinês)”

domingo, 1 de maio de 2011

Solidão molhada


Orvalho da manhã, pranto da noite,
Luz que só tinha sombra e clareou.
Como um poema que se derramou
Sobre o corpo da vida
Mal acordada,
Assim és tu, pura emoção vertida,
Voz do silencio, solidão molhada. 

MIGUEL TORGA

Rosas



Encham a casa de rosas
Mas de rosas naturais
Dessas que trepam viçosas
Pelos muros dos quintais

Rosas de todas as cores
Que me tragam alegria
Que têm todas as flores
Abertas à luz do dia

E que sejam macias
Para as ter ao pé de mim
Mas não sejam rosas frias
Como essas de cetim

E seja tudo surpresa
Como se fosse a sonhar
Ponham, ponham flores na mesa
Que hoje não quero chorar.

Fernando Tavares Rodrigues