Gosto de ouvir histórias de gatos. Quanto mais autista o gato, melhor. Autista no sentido de apegado à sua própria concepção de realidade. Gatos que se escondem atrás da cortina, sem ligar se o rabo ficou de fora. Ou que ficam debaixo da cama o dia inteiro, no esconderijo de sempre, que nem é mais esconderijo, uma vez que só falta bater o ponto, de tanto que o lugar faz parte de sua rotina.
Gosto também dos gatos com TOC, transtorno obsessivo compulsivo. Aqueles que só andam na quina das mesas, que fazem seu ninho numa cadeira quebrada ou em cima de um eletrodoméstico sem uso. Gatos que andam diferente, adeptos dos silly walks dos Monty Pythons. De algum modo, eles sabem que estão sendo observados, mesmo que não tenha mais ninguém no mesmo cômodo.
Gatos me lembram de como eu deveria ter sido, se tivesse me concentrado mais em mim, em vez de abrir mão do meu jeito de ser para agradar os outros. Não me entendam mal: a gente deve fazer concessões, sim, se elas forem em benefício de quem a gente ama. Mas não podemos ceder nas pequenas coisas, nas pequenas manias inofensivas que são o nosso jeito de estar no mundo.
Álvaro Bastos
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