A emoção é como um pássaro,
quando se prende já não canta

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sonhador


Tenho sido sempre um sonhador irónico,
 infiel, às promessas interiores.
 Gozei sempre, como outro e estrangeiro,
 as derrotas dos meus devaneios,
 assistente casual ao que pensei ser.
 Nunca dei crença àquilo em que acreditei. 
Enchi as mãos de areia, chamei-lhe ouro, 
e abri as mãos dela toda, escorrente.
 A frase fora a única verdade.
 Com a frase dita estava tudo feito;
 o mais era a areia que sempre fora.

Bernardo Soares
(heterônimo de Fernando Pessoa)

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