Tenho sido sempre um sonhador irónico,
infiel, às promessas interiores.
Gozei sempre, como outro e estrangeiro,
as derrotas dos meus devaneios,
assistente casual ao que pensei ser.
Nunca dei crença àquilo em que acreditei.
Enchi as mãos de areia, chamei-lhe ouro,
e abri as mãos dela toda, escorrente.
A frase fora a única verdade.
Com a frase dita estava tudo feito;
o mais era a areia que sempre fora.
Bernardo Soares
(heterônimo de Fernando Pessoa)
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